Quando se fala em vida marinha e biodiversidade, logo pensamos na quantidade de plásticos e resíduos que são descartados de forma inadequada nos mares. Segundo a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (International Solid Waste Association, ISWA), estima-se que 25 milhões de toneladas de resíduos por ano são despejados nos oceanos, sendo que 80% desse volume é atribuído pela má gestão ou até mesmo falta de manejo de resíduos sólidos. No entanto, não são só os plásticos que poluem: os efluentes, resíduos em estado líquido que saem das grandes indústrias, também estão presentes nos mares. Por isso, é de suma importância entender os impactos do tratamento para a biodiversidade, e toda a vida marinha.
Somente em 2017, o Brasil lançou diretamente no solo, córregos, rios e mares um total de 5.622 piscinas olímpicas de esgoto não tratado. E, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA), essa é a principal forma de poluição de água no país.
Mas afinal, o tratamento de efluentes é a mesma coisa que tratamento de esgoto?
Para entender a diferença entre o tratamento de esgoto (provenientes de residências, comércios) e o tratamento de efluentes, é preciso entender, portanto, o que é um efluente.
Explicamos tudo sobre efluentes e afluentes nesse conteúdo aqui, além de apresentar as opções de tratamento concedidas pela MR Soluções Ambientais. Mas, em resumo, o tratamento de efluentes funciona da seguinte forma:
- O tratamento é realizado por meio de iniciativas próprias de empresas, de diferentes setores da economia. Alguns exemplos são a indústria petroquímica, cosmética, hospitalar e farmacêutica. Por se tratar de resíduos químicos, esses setores necessitam de tratamento especial para que seus rejeitos não sejam despejados no mar, resultando na contaminação da água e dos lençóis freáticos;
Já o tratamento de esgoto (efluentes domésticos), por outro lado, está vinculado às concessionárias que possuem estações de tratamento de água, sejam elas municipais ou estaduais. Sendo assim, elas são, comumente, de responsabilidade da gestão de cada região.
Por que o tratamento de efluentes é tão importante para vida marinha?
Cada indústria tem, em seus despejos, centenas de diferentes metais pesados e outros componentes químicos (para alguns setores, até mesmo componentes radioativos) que causam impacto na natureza. Despejá-los sem o tratamento necessário é, em sua realidade, destruir diretamente todo um ecossistema. Além disso, não podemos nos “retirar” da natureza: somos parte dela, uma vez que consumimos o que vem dos mares, além de estarmos cercados por oceanos.
Para se ter ideia da dimensão do problema, um estudo feito por um pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) identificou diferentes traços de metais em diversos tipos de invertebrados, peixes e aves habitantes das ilhas Kerguelen, que pertencem às Terras Austrais e Antárticas Francesas. Esse é um cenário que se repete, também, nos litorais dos grandes continentes, ratificando a dificuldade de encontrar, nos oceanos, um lugar que esteja livre dessa condição.
Micropartículas de metais como chumbo, cobre, selênio, zinco, cádmio e de mercúrio, além de prejudiciais para a vida marinha, também retornam à cadeia produtiva por meio da alimentação. No Brasil, um estudo realizado no Amapá, no norte do país, analisou a relação entre a mineração de ouro e a alimentação da população local. Os números impressionam: todos os peixes analisados na pesquisa apresentaram níveis de mercúrio, sendo que, entre esses, 28,7% ultrapassaram a média estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o consumo humano.
Esses metais pesados se diferenciam nos compostos orgânicos tóxicos por não serem degradáveis. Ou seja, permanecem acumulando na natureza. Alguns dos principais riscos dessa contaminação incluem:
- Doenças relacionadas a distúrbios neurológicos, como o Alzheimer, demência e Parkinson;
- O desenvolvimento de cânceres, uma vez que os metais pesados inferem nos processos genéticos e na multiplicação das células do organismo humano;
- Anemia, causada por irritações gastrointestinais que prejudicam a absorção de nutrientes; e
- Problemas renais, já que os metais são cumulativos e não conseguem ser eliminados pelo corpo, causando insuficiência renal crônica.
É válido destacar que, além de prejudicar a saúde da vida marinha, a contaminação dos mares influencia diretamente a economia. Não somente o setor alimentício, como a navegação e o turismo também sofrem os impactos da balneabilidade. Por isso, é importante implementar o tratamento de efluentes em todos os setores, para, além de preservar a vida marinha, preservar também a vida humana, tendo em vista que todos estão interligados em uma cadeia sustentável.